Velhinhos do abrigo ganham um dia de ação solidária em Ilhéus
Natural do Rio de Janeiro, dona Rosita costumava ir à praia de Ipanema com caneta e papel nas mãos para escrever sobre “a força do amor”. Apaixonada pelo marido, Rosita Rodrigues da Silva viu a inspiração perder o sentido quando ele morreu, há quatro anos. Há um, ela resolveu mudar radicalmente de vida. Deixou familiares na capital carioca e veio para Ilhéus “onde não conhecia ninguém”. Ela mora no Abrigo São Vicente de Paula de onde, garante, não quer mais sair. “Visito meus parentes, eles me visitam também. Mas dá logo vontade de voltar aqui pra casa”, afirma. “Aqui conheço novas pessoas todos os dias”, comemora, sorridente.
Nestaa quinta-feira, dona Rosita foi atendida por um grupo de profissionais da beleza que visitou a instituição para cortar cabelos e fazer as unhas dos velhinhos que moram no local. A iniciativa é da cabeleireira profissional e instrutora do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), em Ilhéus, Elivane Viana. No exercício da profissão ela tem aprendido uma grande lição: um dos diferenciais de um bom negócio é ter uma visão social.
Esse mesmo sentimento ela tenta passar para os seus alunos. Após concluírem um curso de beleza e estética com duração de seis meses e estarem participando de uma oficina de qualificação promovido pelo Senac - em parceria com a ONG Human Network -, o grupo resolveu dedicar um dia de trabalho e aprendizagem à solidariedade, atendendo ao público do abrigo “Eles vieram com o intuito de aprender um pouco mais sobre a nova profissão. E garanto que saem daqui com uma reflexão sobre a experiência da vida e com o sentimento de que é preciso saber envelhecer com prazer pela vida”, revela Elivane.
Valquíria, a nova cabeleireira que cuidou de dona Rosita, tem 26 anos, casada e mãe de três meninas. Participa da atividade do Senac em busca de uma nova profissão. Em breve pretende abrir o seu próprio negócio, no bairro Hernani Sá. “Saio revigorada, mais cheia de coragem de enfrentar o mundo ao ver tantas experiências aqui”, garante. Roseli Brito, outra das 13 novas profissionais que participaram da iniciativa, diz, emocionada: “ter passado por aqui, conhecido estas pessoas, não tem preço”.
Cerca de 50 idosos foram atendidos durante todo o dia. “Temos a certeza de que o trabalho social que realizamos mexeu com a autoestima do grupo de idosos. No início muitos nem aceitam se olhar no espelho. Depois a gente percebe a satisfação com o resultado obtido”, revela Elivane Viana.